Saudações leitoras, turm@ que acompanha o blog Diário Virtual de Leitura!
O texto de hoje traz-nos uma reflexão profunda. A escolha não é aleatória, aliás nenhuma indicação aqui do blog é realizada assim do nada. Pois bem! A indicação remete-nos ao percurso já vivido até aqui em 2015. O ano transcorre rapidamente e, muitas vezes, pouco paramos para refletir sobre nossas atitudes e sempre no décimo segundo mês realizamos uma retrospectiva e reafirmamos nossas expectativas e desejos para o ano vindouro.
Partindo desse pensamento, a postagem instiga-nos através do texto Vende-se tudo de Martha Medeiros, jornalista e escritora brasileira, colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro a reflexão da palavra desapego.
Leiamos o texto e a seguir deixemos nossas impressões nos comentários.
VENDE-SE
TUDO
No
mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe,
avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família
voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o
horário de atendimento. Outra mãe, ao meu lado, comentou:
-
Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
-
Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.
Morei
uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas
poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo
entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de
som, tudo o que compõe uma casa.
Como
eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local
de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O
sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e
era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu
convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso,
eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus
móveis e minhas bugigangas.
Um
troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a
cada dia ficava mais nu. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a
geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e,
compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde
os travesseiros.
Guardo
esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a
irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que
não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram
feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade
de objetos, enquanto que se torna cada vez mais difícil me afastar de pessoas
que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na
minha vida…
Desejo
para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a
mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo
colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As
roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma
vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma
xícara em casa.
Fomos
embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas:
nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de
bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza….só possuímos na vida o que
dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o
DESAPEGO JÁ!
Fonte: http://pensador.uol.com.br/autor/martha_medeiros/